K Y L E R I S M

K  Y  L  E  R  I  S  M
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sexta-feira, janeiro 27


Quando eu era futebolista, no inicio de carreira: um dia quis marcar um golo com o pé esquerdo e ninguém me deixou.
O arbitro fez soar o apito, o público gritou de indignação e os meus colegas fizeram cara feia.
Eu marquei golo com o pé esquerdo e o jogo acabou.
No meu tempo não se podia marcar golos com o pé esquerdo.

quarta-feira, janeiro 25

a tarde

O Sol, o dia e o calor
O fim da tarde
A escuridão, a Lua, a noite e o frio

O meu quarto escuro - ----, no Verão
O meu quarto quente e ------, nos meus sonhos
Lágrimas e --- -- -----, no meu quarto
Calor, suor e roupa no chão, em Janeiro
Um ------- ------ -- cama, e um -------- - ------ ----- -- tecto
- respirar ---- -----, ------ durmo

A manhã: acordar -- --------
----- até sentir - -------- -- pele
- --- ---- -- volta
-- ------ ----- -- volta
O dia não vai acabar...
A tarde está a caminho...

A noite está a chegar novamente,
Abro as janelas, -- --- -----, para a receber
Sei --- --- ----- - ---- ------ ---------,
-------- ------ - ----- embora

Estou a tremer...

terça-feira, janeiro 24

O amor é como o nó de uma gravata.
No início nunca se sabe como vai sair.
Poderás ter de o apertar ou soltar.
Por vezes tens de começar tudo de novo.
Amar alguém é um grande mistério.

domingo, janeiro 22


Será possível fazer duas coisas ao mesmo tempo?
Gosto do cheiro a canela.
O Céu à noite é escuro.
Lembro-me de não chegar aos interruptores. Lembro-me de crescer. Das arvores. Das paredes. Das cores.

sábado, janeiro 21


Tenho um amigo que não acredita no orgasmo feminino. No entanto acredita que as mulheres conseguem voar, se quiserem. Há mulheres que vivem todas tapadas. A única coisa que não tem tapado são os olhos e conseguem… as mulheres conseguem tudo.

quinta-feira, janeiro 19


Não sei de que cor são os meus olhos
Não conheço a textura e aroma da minha pele
Não sei a que sabe o café
Nunca dormi
Nunca tomei banho
Nunca beijei

quarta-feira, janeiro 18


Esta noite acredita em mim! Garanto-te que esta noite podes acreditar em mim. Esta noite não vou mentir. Já deixei partir a juventude, há muito. Talvez eu possa mudar.
Tu vais ver, esta noite, eu vou estar diferente. Eu consigo mudar. Sei que estás insegura...
Nem que eu tenha de crucificar, ou voltar para... onde nasci. Esta noite vais viver momentos indescritíveis.
Entra depressa; enquanto há uma porta, ou uma janela aberta! Nem que seja pela última brecha, mas entra depressa! Vamos, tentar, esquecer o passado; esquecer tudo o que aconteceu, até teres entrado.
Vou morrer. Vou mentir, vais mentir: vamos mentir, para nos podermos ver.
Esquece o que, tu própria, queres: faz-me, apenas, sentir bem! Nunca desistas!
Quando olho para o espelho vejo o meu reflexo. Quando olhas para mim vês os teus sonhos. Reza pela tua salvação! Precisas de mim, mas eu não quero saber, só quero fugir de ti. Gostava de conseguir voar, para poder voar para bem longe de ti. Precisas mesmo de mim: sem mim não és nada; és, apenas, um ser limpo e sozinho. Amas a tristeza? Fodasse! Levanta-te dessa poltrona e olha em frente!
Só te estás a magoar, e tu sabes isso. Não esperes mais. Deixa a esperança morrer.
Tu brilhas como uma estrela, no entanto não sabes brilhar: não sabes quando a noite chegou ao fim. Tens a cabeça enterrada na terra. Já não me fazes rir; és, apenas, um diamante esmagado por uma estrela. Estás completamente destruída: és triste. Vou queimar-te; até ficares completamente incinerada.
O mundo é um vampiro; que nos abraça, e nos tira o medo do papão.
Sinto um desejo incontrolável, que não me deixa ir para o Céu. Diz-me qual é o teu trabalho, neste mundo, e ajuda-me a despir. Quero estar nu, e tu podes ajudar-me. Sinto-me como um rato de esgoto, sem salvação. Desejo o que tu desejas; quero mudar; quero possuir-te; mas vou trair-te: vou morder-te a mão. Quando sentires a minha pele: suponho que vou chegar ao Céu; e então vou dizer-te como estou bem.
Quero dizer-te tudo; até, que estamos perdidos para sempre.
Diz-me que sou único. Diz-me que os outros não existem. Diz-me que eu sou o escolhido, o único. Sou um rato, e nós não temos salvação.
Há 10 minutos, esqueci-me onde isto tinha começado. Só me lembrava que estava a chover. Por vezes não sinto nada. Penso que não me esqueci de nada

terça-feira, janeiro 17


As minhas mãos são grotescas, como as minhas botas.
E ela é tão orgulhosa, insultuosa e também muito bonita. Não tenho a certeza da minha vontade de a voltar a ver, mas agora quero ir para casa.
Não choro... porque não quero.
Acho que me sai muito bem.
Quero lá voltar daqui a seis dias, mas não quero levar estas botas.
Ela acha que a minhas mãos são desastradas. Por vezes diz-me, energeticamente, que me odeia, outras vezes não. Eu admiro-a imensamente.
Ela vai partir, nunca mais vou voltar; nada mais me liga a este lugar, não vou voltar a vela.
Quando nos despedimos ela disse: “podes beijar-me se quiseres.” Eu beijei-a.

domingo, janeiro 15

REBOOTING

Ovelha Negra
Eu menti à Saudade
Por este andar ainda acabo a morrer em Lisboa
Um dia todas as Putas viram de Marte transformadas em Obras de Arte
Amantes desconcertantes
Eu venho da Terra Seca
O corpo de Wendy O. Williams foi encontrado dia 6, atingido por um tiro de revolver
Cozy Powell morreu dia 5
O Pai de Tammy Wynette morreu quando ela tinha dez meses, foi criada pela
mãe e pelos avós
Um de nós nunca mentiu
A noite passada sonhei que havia alguém que me amava
Não posso seguir o meu caminho
Sou fácil
Algures no Tempo o Sétimo filho do sétimo filho
Era uma vez a Porca Princesa...
O Sapo – O Príncipe Encantado.
-Lembras-te das coisas?
Debaixo da cama do Meu Sonho
Faz-me sorrir!
O Kenny foi morto acidentalmente; e de lá para cá, não para de morrer
Tens alguma idéia? Não consigo pensar em nada!
O segundo Carneiro mal morto
Eu não queria, mas obrigaram-me a ir
Então o que é que acharam?
O Fim é isto.
O Fim acabou.

sábado, janeiro 14

As palavras certas

Estou beijar-te. O pescoço. Vem à casa de banho comigo! Vira-te para a parede, para eu mijar! Estou a olhar para ti, estás a limpar a cona.
Eu trabalho muito. O meu mundo e eu somos muito grandes. Tão grandes que eu estou perdido a maior parte das vezes. Quando encontro o caminho... Por vezes… Não sei para onde vou e deixo de ser eu.
Também tenho a minha vida, que me absorve quase e sempre por completo. Sou muito triste, mas não sei. Sofro muito, desde sempre, mas não sei. Fico sempre a rir nas fotografias. Estou sempre a rir. Visto-me sempre de preto. Estou de luto. Acho que também estou de luto. Sou um náufrago. O Adamo é loiro e tem os olhos azuis, casou ontem com uma indígena da ilha.
É um riacho baixinho e transparente. São pedras espalhadas por vários ramos. É um corpo morto, já há muito tempo, à espera que chegue alguém.
É o último unicórnio. Está triste e bebe vinho para se transformar. Toca uma música muito triste numa gaita-de-beiços. Na primeira noite de lua cheia transforma-se, num monstro. Fica aterrador. Ouve-se o último êxito dos Duram – Duram e ele ataca a primeira vítima que lhe aparece pela frente.
Dentro do barco eles continuam a beber, enquanto na aldeia as raparigas dançam. Eu passo à beira do rio. Fico com tesão. E sou atacado por um tigre, que é a única coisa bonita desta merda toda – talvez à excepção da mota, dos olhos dela e do tesão.

sexta-feira, janeiro 13

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Não comi iogurtes. Não lavei louça. Vi a Sharon Tate e o Charles Manson.
Eu seria diferente se não existissem comprimidos?
Fumo porque estou vivo! Gramaticalmente correcto. Brilho.
Está uma miúda, bonita, à minha frente, que se está a sentir observada; e fica ainda mais bonita. As mulheres bonitas ficam mais bonitas quando olhamos para elas.
Os homens gostam de futebol; as mulheres, de novelas. As mulheres têm seis sentidos, os homens têm cinco. Os homens têm pénis, as mulheres têm vagina.
O sexo é uma luta, entre homens e mulheres?
O homem e a mulher não podem ser amigos?
Estou a fazer zaping?
Acabaram-se me os cigarros. Estou desconfortável. Não vou conseguir ficar aqui muito mais tempo. E hoje faço trinta e nove anos.
A mulher adormece sempre, o homem nem sempre.
Foi-se embora, a cantar. Pegou na mala e fez um movimento gracioso, com o pescoço.
Por vezes penso em ti. E penso que tu jamais pensas em mim. Outras vezes sonho... que tu sonhas comigo.

Don't Speak


You and me
We used to be together
Every day together always
I really feel
that I’m losing my best friend
I can’t believe
This could be the end
It looks as though you’re letting go
And if it’s real,
Well I don’t want to know
Don’t speak
I know just what you’re saying
So please stop explaining
Don’t tell me ’cause it hurts
Don’t speak
I know what you’re thinking
I don’t need your reasons
Don’t tell me ’cause it hurts
Our memories
They can be inviting
But some are altogether
Mighty frightening
As we die, both you and I
With my head in my hands
I sit and cry
It’s all ending
I gotta stop pretending who we are...
You and me
I can see us dying ... are we?
I know you’re good
I know you’re good
I know you’re real good oh
La da da da da da
La da da da da da
Don’t, don’t
Ohh Ohh
Hush me hush me darling
Hush me hush me darling
Hush me hush me, don’t tell me ’cause it hurts

A vida continua... para a frente

O que seria capaz de fazer por 1 cigarro?
E por amor?
E pelo último meio xanax do mundo?
Seria capaz de deixar de fumar por amor?
Seria capaz de matar o meu amor por 1 cigarro?
O que faria se me recusassem 1 meio xanax?
Os opostos existem?
O fumador é o oposto do não fumador?
O que é o melhor, que temos na vida?
O jazz?
Carne e sangue.
Estou a deitar fumo pela boca.
Estarei a arder? Não há fumo sem fogo. A não história conta que trazíamos 1 cigarro entre os lábios, quando fomos criados; seremos mutantes?
Não quero acreditar que isto é realmente mau.

Quero a minha torradeira!

quarta-feira, janeiro 11


A vida é uma laranja
Eu acho, que a vida é uma laranja, porque pode apodrecer.
Há quem ache, que a vida é uma laranja, porque roda.
E há quem não faça a menor idéia.
A vida é uma laranja.

Celulite

A vida é uma laranja, numa prateleira. A vida é uma laranja, em cima de uma mesa. A vida é uma laranja, cortada ao meio. Duas metades separadas para sempre... A vida é uma laranja, numa laranjeira. A vida é uma laranja, feita em sumo natural e fresco. A vida é uma laranja, feita em sumo, cheio de conservantes, antibióticos, produtos cancerígenos e ácido ascórbico. A vida é uma laranja, ainda, verde. A vida é uma laranja, já, madura. A vida nunca é uma flor de laranjeira, embora possa conte-las. E nunca é uma casca de laranja, apesar de poder fazer parte dela. A vida é uma laranja doce. A vida é uma laranja amarga. A vida é uma laranja suculenta. A vida é uma laranja fácil de descascar. A vida é uma laranja difícil de descascar. A vida é uma laranja, que nos põe os cabelos em pé, quando provada. A vida é uma laranja, que já foi comida. A vida é uma laranja podre. A vida é uma laranja, standarizada, qualificada, selada e aprovada. A vida é uma laranja desaprovada. A vida é uma laranja da Baia. A vida é uma laranja espanhola. A vida é uma laranja cor de laranja. A vida é uma laranja, que nos pode ser servida de várias maneiras e com vários acompanhamentos. A vida é uma laranja roubada. A vida é uma laranja, que nos foi oferecida. A vida é uma laranja, que nos foi concedida. A vida é uma laranja, que gostamos. A vida é uma laranja, que não gostamos. A vida é uma laranja, que foi muito cara. A vida é uma laranja barata. A vida é uma laranja, que nos provoca borbulhas. A vida é uma laranja, que pode ser comida simples. A vida é uma laranja, que tem uma casca nutritiva. A vida é uma laranja com a casca cheia de pesticidas. A vida é uma laranja pequena. A vida é uma laranja grande. A vida é uma laranja dentro de uma caixa de laranjas. A vida é uma laranja dentro dum caixote do lixo.
A vida é uma laranja... A vida é uma laranja, que comida de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata.

terça-feira, janeiro 10

1 9 9 5


O natal é, apenas, um dia. Ou melhor: meio dia. Um ano tem 365 dias; 5 horas; e 46 segundos. Não desesperemos: ontem foi o muro de Berlim; hoje a União Soviética; amanhã, quem sabe, o Vaticano.
O perdão pede-se às pessoas, que compreendem tudo: aos amigos. Sejam grandes ou pequenos: adultos ou crianças. Os nossos amigos podem viver em França; ter fome e frio; ou ser ricos. Três desculpas não bastam.
Quando eu tinha 6 anos: andava na escola. Aprendi que o feio nos pode paralisar e arrefecer. Pensei. E, hoje, continuo a pensar.
Quando tinha 6 anos: vi uma virgem. Dizem, que as virgens engolem a presa sem a mastigar. Depois ficam sem se poder mexer, e dormem durante 9 meses de digestão. Hoje: penso muito na virgem, que vi quando tinha 6 anos. Mais tarde: uma pessoa grande explicou-me que aquilo não era nenhuma virgem.
Comecei a observar as pessoas de muito perto. Nós temos cornos. As pessoas riem-se. Eu existo, porque: sim. Martelada. A culpa é dos professores. Um dia ao por do sol: todo despenteado, vesti uma camisa, toda amarrotada. Estava belo. Esta casa não tem condições: está muito frio.
Não confies nas mulheres! Elas são muito incoerentes. Deves, apenas, observa-las e cheira-las. A última vez que olhei para a “virgem”: tive vontade de chorar. Disse adeus: parti. As pessoas são muito pequenas. Só existem 3 ou 4 homens.
Concreto. Galinha dos ovos de ouro. Não estou deprimido. Não posso: eu sou dentista. Um dentista tem de saber trabalhar, sem material: tem de ser criativo. Aprendi, tudo, isto na marinha.
Era um porco, cor-de-rosa. Nunca fazia barulho: descalçava-se, sempre, antes de entrar. Lá para o fim: tornou-se, ainda, mais porco; e mais cor-de-rosa. A luz vem lá de cima, e ilumina o que está cá em baixo. A minha mulher telefonou-me, a dizer, que está tudo acabado entre nós. A culpa é do Lopes. Ou melhor: da mãe dele; que lhe deu educação; e usa prótese dentária.
Estava a chover, estava frio, estava escuro. Através de todo aquele cabelo só lhe conseguia ver o brilho, do olho esquerdo. Eu babava-me. Não trazia a escova de dentes comigo. Mas mergulhei na lama. A lama olhava para mim. Libertava adrenalina: estava pronta a fugir, ao mínimo alerta. Eu; virei-lhe as costas e fui-me embora. Mais tarde: ela telefonou-me, a agradecer, e a dizer que estava tudo bem. Pus-me logo a trabalhar. Pedi um café e uma tosta mista: paguei 350 paus. Que belo café! Ofereci-lhe um salmão: ainda estava vivo.
É simplexo.

segunda-feira, janeiro 9

Há pessoas que conhecem o Código de Morse. Há pessoas que abandonaram o desporto, há muito tempo. Há muito tempo... Há pessoas que não se sentem seduzidas pela Holanda. Há pessoas que vivem na Holanda, e não se deixam corromper pela droga. Há pessoas que gostam da Dinamarca; e há pessoas que precisam aperfeiçoar o seu dinamarquês.
?

domingo, janeiro 8

6.ª feira – 13


Estou farto de viver na escuridão.
Sempre vivi na escuridão, sonhava um dia sair... não sonhava com o dia em que ia sair; sonhava, apenas, que um dia ia sair... acreditava que um dia ia, conseguir, encontrar a porta de saída; e deixar de habitar os corredores do complexo labirinto. Acreditava conseguir abandona-la; deixando-a, por sua conta, sozinha e perdida neste mundo cruel.
Obscuridade... estou farto!
Este sonho, surgia em dias de desespero: quando ela me estrangulava, e me esmagava contra as suas próprias paredes. Primeiro deitava-me ácido em cima; e depois deglutia-me, quando eu já estava todo derretido. Eu sentia-me: invadido; violado; e absorvido, então sonhava. Acho que eu tinha um carinho especial por ela, talvez a amasse, por isso é que nunca sonhei com paixão suficiente. Ou então: ela tinha uma capacidade qualquer, ou uma formula mágica, para me encantar. Na realidade não passava de um sonho, nunca lhe senti a realidade. Mas nunca deixei de sonhar. Afinal de contas: todos nós passamos; e permanecemos durante um, pequeno, período de tempo pela escuridão. Mas o meu período não era pequeno, antes pelo contrário; e a escuridão que eu atravessei, ou atravesso, não tinha um único fotão de luz. Era uma escuridão rechiada, e coberta de merda. Não tinha Cheiro; mas ao contrário do que se possa pensar, não era seca. A capacidade que a escuridão tinha para me encantar, era-lhe conferida pelo facto da cobertura, e recheio não terem cheiro. Facto que descobri tarde demais, quando lhe prestei atenção, já me tinha chegado aos ossos. Descobri que me estava a transformar em merda, merda sem cheiro. Tornei-me, então, na sua propriedade milagrosa. Agora vivemos felizes: não sei se posso dizer felizes, não tenho a certeza se a amo; tenho, apenas, a certeza que já estou conformado: para nós não há divórcio possível; é com ela que vou viver, e partilhar, os meus últimos dias.
Fiz várias tentativas para sair desta merda, tipo desintoxicação de narcótico: despia-me, completamente; e esfregava-me todo, até desencostar todos os pedaços de merda. Quando pensava estar completamente limpo ficava feliz, mas não era iluminado; cada cm 2 da minha pele procurava a luz, de olhos arregalados. Era, então, que eu descobria um pedaço,enorme, de merda colado ao meu corpo, nu. Daquela merda húmida e pegajosa; que me traia, por não ter cheiro. A escuridão, ainda mais densa, despencava-me em cima dos cornos como uma bigorna.

sábado, janeiro 7

Tu disseste


Tu disseste “quero saborear o infinito“
Eu disse “a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis”
Tu disseste “sentir a aragem que balança os dependurados”
Eu disse “é o medo o que nos vem acariciar”
Tu disseste “eu também já tive medo. Muito medo. Recusava-me a abrir a janela, a transpor o limiar da porta”
Eu disse “acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala”
Tu disseste “um dia fiquei sem nada. Um mundo inteiro por descobrir”
Eu disse “...”

Eu disse “o que é que isso interessa?”
Tu disseste “...nada”

Tu disseste “agora procuro o desígnio da vida. Às vezes penso encontra-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. Escrevo páginas e páginas a tentar formaliza-lo. Depois queimo tudo e prossigo a minha busca”
Eu disse “eu não faço nada. Fico horas a olhar para uma mancha na parede”
Tu disseste “e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?”
Eu disse “não. A mancha continua no mesmo sitio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada”
Tu disseste “e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. Liberta-te do corpo. Tu é que não vês”
Eu disse ”o que é que isso interessa?”
Tu disseste “...nada”

Eu disse “o que é que isso interessa?”
Tu disseste “...nada”







Adolfo Luxúria Canibal/ Miguel Pedro

sexta-feira, janeiro 6

Hoje não há lágrimas. Tenho os olhos completamente secos. Para ser sincero. Hoje choveu durante a tarde, não muito só um pouco. Não sei se choveu no Porto, mas só porque não quis. Hoje já falei do tempo. Tentei falar sobre mulheres, mas – não consegui – não escolhi o interlocutor mais adequado. Falar de mulheres requer um interlocutor especial: que goste do assunto e do objecto – deste ou doutro qualquer –, não pode ser uma gaja que quer dizer mal de outra gaja. Tem de ser... Mas, sim, alguém que quer falar de gajas, que tem prazer em faze-lo e sem pruridos, escrúpulos, ou constrangimentos. Tem de ser leal e de confiança. A culpa foi toda minha – para além de ter escolhido o interlocutor errado: fiquei constrangido. Estraguei tudo. Não senti segurança. Para um gajo... Sentir segurança é quando um gajo faz um comentário, por mais irracional que seja ou mais sensorial possível, e recebe um feedback fixe. Neste momento estou a dirigir a minha observação contemplativa para conversas sobre o tempo e mulheres; confesso que a ideia não foi minha, fora sugerida... Não é importante... O que interessa é que foi uma boa ideia... Mas difícil de concretizar: o tempo porque, aparentemente, é desinteressante; e as mulheres porque são um objecto difícil de encontrar e exige uma carrada de requisitos.
Quando for grande também quero conhecer uma super boa, e ter uma vida social agitada. Mas...

quarta-feira, janeiro 4

Acordei de manhã com vontade de fumar. Viram-me no quarto e mandaram-me trabalhar. Rapei o cabelo de lado, calcei as botas da tropa e fanei uma moto. Fui para a Feira da Ladra.
Dói-me o corpo, que crueldade. Dói-me a cabeça, que insanidade. Dói-me o peito, é o coração. Dói-me os pés, de saturação. Dói-me tudo o que tenho... Ouço sorrisos que não entendo, pois agora sou um… Sou um… e espero morrer, em qualquer sítio vou padecer, em qualquer local me deitarei, tomarei minha dose e partirei. Adeus Mundo, adeus Terra, adeus Ódio, adeus Guerra. E agora só paz, que me rodei, não há dor,... pois estou morto na areia.
Filhos da noite, filhos da droga. Grande moca, grande flash...
Bocas amarelas, que escorrem como borrões de tinta.
Já pensaste em todas as pessoas que gostas incondicionalmente? Quem são? São muitas? Quantas? Nem quero pensar. Porquê? A mim basta-me um porque sim. Gosto de pessoas que já morreram; gosto de pessoas que não vejo há uma década; gosto de pessoas que não via há uma década e quando as encontrei, fingi não as conhecer, para as poder continuar a amar. As pessoas que nós conhecemos há uma década já não existem.
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